O que é competência?
Apesar da
noção de competência não ser um termo novo, há uma diversidade de conceitos,
implicações e variações de abordagens, podendo ser analisadas sob a ótica da
organização e das pessoas. . Segundo Bitencourt (2001), que pesquisou o
conceito de competência sob a ótica de vários autores, os conceitos de
competência apresentam diferentes aspectos:
“Desenvolvimento de conceitos, habilidades e atitudes (formação); capacitação (aptidão); práticas de trabalho, capacidade de mobilizar recursos (ação); articulação de recursos (mobilização); busca de melhores desempenhos (resultados); questionamento constante (perspectiva dinâmica); processo de aprendizagem individual no qual a responsabilidade maior desse processo deve ser atribuída ao próprio indivíduo (auto-desenvolvimento) e relacionamento com outras pessoas (interação)”.
(BITENCOURT, 2001, p. 29).
Explorando o
aspecto da formação + ação implícito na noção de competência proposta por Perrenould
(1999), competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos
cognitivos para solucionar uma série de situações. Trata-se de uma capacidade
de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimento,
mas sem limitar-se a eles. Em um exemplo simples, o autor menciona:
“Localizar-se numa cidade desconhecida, por exemplo, mobiliza as capacidades de ler um mapa, pedir informações; mais os saberes de referências geográficas e de escala.” A descrição de cada competência deve partir da análise de situações específicas.
(PERRENOULD, 2000).
Entretanto, uma
competência nunca é a implementação racional pura e simples de conhecimentos e
modelo de ação (PERRENOULD, 1999) e seu desenvolvimento não ocorre naturalmente.
Para desenvolver competências é necessário um processo de ensino-aprendizagem.
A possibilidade de desenvolver os conhecimentos, habilidades e atitudes
necessárias à formação do profissional, está atrelada e depende, em muito, do
projeto político pedagógico e dos programas de aprendizagem instituídos e
desenvolvidos pela IES (BRAVO, 2009).
Como se desenvolve competência no ensino superior?
Bravo (2009)
afirma que aprender e ensinar faz parte da essência humana. O ser humano tem a
necessidade de aprender durante toda a vida por diversas razões, incluindo,
desafios tecnológicos, econômicos, sociais, entre outros. Entretanto, dependendo da fase
em que o indivíduo se encontre, o processo de ensino-aprendizagem deve ser
conduzido de forma diferente. Uma das razões de se conduzir diferentemente
crianças e adultos é que os mesmos são biológicas, psicológica e socialmente
diferentes. Se criança e adulto têm constituições diferentes, há necessidade,
portanto, de propor estratégias de ensino-aprendizagem que sejam adequadas a
cada perfil. Moscovici (2008), com base em seus estudos, apresenta um sumário
comparativo entre pressupostos e práticas da Pedagogia e da Andragogia.
Na concepção construtivista interacionista a construção
do conhecimento encontra-se na interação, ocorrendo quando ações físicas ou
mentais do sujeito sobre objetos provocam o desequilíbrio. À medida que este
conteúdo é assimilado e acomodado, as perturbações fazem surgir algo novo,
resultando na construção de esquemas. Tais esquemas tornam-se cada vez mais
refinados, fazendo com que as próximas assimilações sejam diferentes e melhores
que as anteriores (BECKER, 2001). Assim, de acordo com esta abordagem, o individuo aprende
quando consegue apreender um conteúdo e formular uma representação pessoal de
um objeto ou realidade. Neste processo, determinado por experiências,
interesses e conhecimento previsto (LAKOMY, 2008),
Neste contexto, Vasconcelos
(2005) menciona que há necessidade de refletir-se sobre as estratégias
freqüentemente utilizadas no ensino superior brasileiro. Becker (2001) afirma que a escola precisa aprender a reconhecer e escolher ações que têm chance de produzir resultados cognitivos, transformando as estruturas de conhecimento do sujeito, considerando o erro como instrumento analítico e não como objeto de punição..
Como se avalia competência no ensino superior?
Se os seres
humanos são tão diferentes, como podemos admitir um padrão único de
inteligência? Embora a teoria de Gardner (2000) sobre as inteligências
múltiplas não esteja na esfera da pedagogia e sim da cognição, ela dá pistas
para a educação (veja o vídeo que compartilhamos: A Teoria da
Inteligência Múltipla de Gardner (2000)) é a principal delas é a educação personalizada
(aqui a personalização está associada a olhar ao mesmo tempo todos e cada um).
Ao compreendermos esta diversidade somos desafiados a construir uma escola onde
as diferentes capacidades dos alunos possam realmente ser valorizadas.
Alguns autores (PERRENOULD, 1999;2001; ZABALA, 1998) postulam
que a avaliação das competências no contexto do ensino não deve ser vista como
aferição de domínio do conteúdo pelo aluno, mas como a verificação do
desenvolvimento de suas capacidades. Neste contexto, a avaliação não deve se
limitar somente a avaliação do aluno, mas também o grupo / classe, inclusive o
professor ou a equipe docente. Assim, o processo de ensino é a própria forma de
avaliação. Para Zabala (1998) a avaliação deve ocorrer de forma continuada,
passando pela avaliação inicial (diagnóstica), avaliação reguladora (como cada
aluno aprende e melhora contínua do aluno) e avaliação integradora (todo
percurso do aluno). Para o autor é fundamental compartilhar objetivos e condições
para avaliação formativa, bem como, a forma como os resultados de aprendizagem
serão comunicados..
Compartilhamos um vídeo que
apresenta uma reflexão sobre o papel do aluno e do professor no processo de
avaliação. Segue o link: O processo de
avaliação
Outros
vídeos interessantes:
Para saber mais sobre competências visite o blog que nossos colegas de classe Silvio e Caren criaram para discussão da avaliação por competência. Visite também o blog dos nossos colegas Ákila, Patricia e
Cássio sobre a percepção dos alunos em relação ao desenvolvimento de
competências no curso de administração de empresas.
REFERÊNCIAS
(deste post)
BITENCOURT, C. C. A gestão de Competências Gerenciais – a Contribuição da Aprendizagem Organizacional.
Tese de Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Administração. Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001. 320f. Disponível em:
<www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/1793/000308546.pdf?sequence=1>.
BRAVO,
ROSELI TEREZINHA CUNHAGO. Estratégias de Ensino-Aprendizagem: o Desenvolvimento
de Competências Interpessoais na Visão de Docentes e Discentes do 4º ano de um
Curso de Graduação em Administração. Dissertação de Mestrado - Programa de
Pós-Graduação em
Administração. Pontifícia Universidade
Católica do Paraná (PUC PR), Curitiba, 2009.
GARDNER, Howard. Inteligências
Múltiplas, a teoria na prática. Porto Alegre: Artmed, 2000, 257p..
MOSCOVICI, F. Desenvolvimento
interpessoal: treinamento em grupo. 17.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.
PERRENOUD. P. Construir
as competências desde a escola. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
PERRENOUD,
P. Ensinar: agir na urgência, decidir na incerteza. Porto Alegre:
Artmed, 2001.
VASCONCELOS, M. L. M. C. A
universidade brasileira diante de um novo perfil de aluno: o desafio da
educação continuada. In: Educação Brasileira, Brasília, v. 27, n. 55, p.
81-93, jul./dez. 2005.
ZABALA, A. A prática
Educativa: Como Ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.