O Pensamento Sistêmico na Administração de Empresas: um breve
resumo
O Pensamento
Sistêmico está intimamente associado à compreensão dos processos de organização
e auto-organização de sistemas complexos. Com o advento da Revolução
Industrial, transformações tecnológicas introduziram novas formas de
complexidade. O movimento sistêmico emerge como uma resposta a incapacidade da
ciência analítica de lidar com as novas formas de complexidade introduzidas
especialmente com a automatização de sistemas mecânicos. Sistemas complexos
incentivaram a pesquisa interdisciplinar, englobando as ciências sociais e
humanas. Assim, na década de 40, cibernética, teoria das organizações, teoria
da decisão, ciências da computação, teoria da informação, ciências políticas,
engenharia e análise de sistemas e pesquisa operacional começam a surgir.
O Pensamento Sistêmico associado a
organizações tem suas origens ligadas à dinâmica de sistemas, desenvolvida na
década de 50, no MIT (Massachusetts Institute of Technology). Forrester,
simulando como as variáveis de estoque, empregados, pedidos e políticas de
decisão se inter-relacionavam, influenciando a oscilação na demanda de uma
empresa, fez surgir assim a Dinâmica de Sistemas (MORANDI, 2008). Na década de
70, influenciado por Forrester e pela Dinâmica de Sistemas, Peter Senge começa
a difundir as idéias da dinâmica de sistemas associadas a sistemas gerenciais
como forma de auxiliar as empresas em melhorias organizacionais (ANDRADE, et.al.,
2006).
Assim, conceitos de outras áreas de
conhecimento, abrangendo campos tão diversos quanto às ciências físicas,
sociais, a engenharia e a administração evoluíram e foram refinados ao longo do século XX. Tal aprimoramento
forma a base de um conjunto de princípios gerais que permeiam o Pensamento
Sistêmico (SENGE, 2009).
Autores contemporâneos, tais como
Capra (2003), Maturana (2000) e Morin (2002) corroboram com a crítica ao
reducionismo intrínseco ao paradigma cartesiano. Tal paradigma fragmenta, entre
outros fatores, os problemas em partes na tentativa de compreender o todo. Entretanto,
no contexto da
administração de empresas e com base nesta visão fragmentada, as mudanças tendem a ocorrer apenas
uma parte de uma organização. Assim, muitas vezes, podem-se obter conseqüências
imprevisíveis, inesperadas e indesejáveis em outras partes do sistema,
perdendo-se a conexão intrínseca entre as partes (SHERWOOD, 2002; HAINES, et.
al., 2005; SENGE, 2009).
Entretanto, há um movimento de diversos autores
(SHERWOOD, 2002; MOREIRA, 2005; ANDRADE, et. al., 2006; MENEZES, 2008; SENGE,
2009), buscando o entendimento do todo e não somente das partes e neste
contexto o Pensamento Sistêmico se apresenta como alternativa junto a outras
formas de pensamento já estruturadas.
O que significa pensar sistemicamente?
A essência do Pensamento Sistêmico é que a
complexidade do mundo real pode ser mais bem compreendida ao olhar o sistema como um todo, trazendo como benefícios como a
tomada de decisões de forma mais robusta e mais inteligente. As decisões são melhores
porque são tomadas considerando o problema e todas suas inter-conexões em toda sua complexidade e são mais robustas,
porque são tomadas com pleno entendimento de suas conseqüências, de
modo a evitar as surpresas por circunstâncias imprevistas nas relações causais
(SHERWOOD, 2002).
Na visão sistêmica, as propriedades essenciais de um
sistema vivo são propriedades do todo, que nenhuma das partes possui. Isso
significa que as propriedades das partes só podem ser entendidas a partir da
organização do todo, que por sua vez emerge das interações e das relações entre
as partes (FAGUNDES, 2007).
Dependendo da forma como se estrutura os processos é
possível obter diferentes resultados. Entretanto, a maioria das estratégias de
ação são resultados de uma visão de mundo (SENGE, 2009). Esta visão de mundo,
do ponto de vista amplo, é resultado de modelos mentais. Tais modelos são os
pressupostos particulares, derivados de nossas crenças, valores e experiências.
Estão profundamente arraigados no que o individuo carrega sobre a natureza do
mundo e determinam o seu modo de agir. Estes modelos mentais, muitas vezes,
tornam difícil o processo de mudança e até mesmo o questionamento de tais
modelos (MOREIRA, 2005).
Desta forma, pensar sistemicamente tem por
objetivo lidar com fenômenos e situações que requerem explicação baseada na
inter-relação de múltiplas forças ou fatores, sendo uma disciplina para ver
o todo. É um quadro referencial para ver inter-relacionamentos em
detrimento a eventos isolados; para se identificar os padrões de mudança em
detrimento ao que está ocorrendo no momento em análise (SENGE, 2009).
Mas, se a pensar
sistemicamente é ver o todo, como desenvolver esta competência? Se, por um lado
vemos somente aquilo que queremos e estamos preparados para ver, por
outro lado, como mudar esta visão?
Para
exemplificar o quanto é difícil mudar nossos modelos mentais, vamos brincar um
pouquinho com a língua portuguesa. Dependendo do modelo mental, as frases podem
ou não fazer sentido... depende de como olhamos para elas.
Vamos tentar?
Clique aqui
para brincar com essa dinâmica e entender melhor o que são os modelos mentais....
REFERÊNCIAS DESTA PÁGINA
ANDRADE,
A.L; et. al. Pensamento
Sistêmico: caderno de campo – o
desafio da mudança sustentada nas organizações e na sociedade. Porto
Alegre: Bookman, 2006, 488p.
FAGUNDES, P. Desenvolvimento de Competências
Coletivas de Liderança e de Gestão: Uma Compreensão Sistêmico-Complexa Sobre o
Processo e Organização Grupal. Tese
de doutorado – Programa de Pós-Graduação em
Psicologia. Pontifícia Universidade
Católica do
Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, 2007.
HAINES, STEPHEN G.; STEAD, G.A.; MCKINLAY, J. Enterprise-wide
Change: Superior
Results Through Systems Thinking. Pfeiffer, 2005.
MENEZES, F.M. Proposta de
desenvolvimento de um método sistêmico de formulação estratégica integrando
planejamento estratégico, pensamento sistêmico e planejamento por cenários.
Dissertação de Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção
e Sistemas (PPGEPS). Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). São
Leopoldo, 2008.
MOREIRA, G. Cenários
Sistêmicos: Proposta de Integração entre Princípios, Conceitos e Práticas de
Pensamento Sistêmico e Planejamento por Cenários. Dissertação de Mestrado -
Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA). Universidade do Vale do Rio
dos Sinos (UNISINOS). São Leopoldo, 2005.
SENGE, P.M. A Quinta
Disciplina: A Arte e a Prática da Organização que Aprende. 25 ed. Rio de
Janeiro: Best Seller, 2009.
SHERWOOD, D. Seeing the Forest
for the Trees: A Manager's Guide to Applying Systems Thinking. London: Nicholas Brealey,
2002, 346 p.